terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ANÁLISE DO DISCURSO EXISTENCIALISTA DE MAFALDA

Para a realização da análise do discurso existencialista foram escolhidas algumas tiras da história em quadrinhos da “Mafalda”. No que se refere à dimensão de tempo, sabe-se que o distanciamento temporal leva a perder a referência do contexto social das imagens e que, ao serem revistas “fora de seu tempo”, nem sempre permite compreender a intenção e o humor direcionados a sua época.

Seguimos a presente análise tratando do elemento persuasão como característica das tirinhas da Mafalda. Percebe-se de que no decorrer da leitura das tirinhas a pretensão da personagem não é de somente dissertar sobre um determinado assunto, mas a de convencer o receptor, objetivando inclusive, uma mudança de consciência e de atitude. As histórias em quadrinhos se convertem, por influência da instituição que a produz e dissemina, num verdadeiro discurso de convencimento.

A análise do conteúdo enunciativo das histórias da “Mafalda” se fundamenta na freqüência de citação, pelos personagens, de temas sociais com duplo sentido, nas sátiras à estrutura de governo, família, futuro e humanidade. A estrutura das histórias em quadrinhos dá-se pela seqüência de cenas e a utilização de quadros rítmicos e progressivos encadeia sentidos, como também, permitem rupturas significantes ao enredo. Geralmente, as rupturas geram uma quebra no sentido lógico do texto causando o riso reflexivo.

A opção da análise de discurso para o confronto textual é conseqüência das capacidades de apreensão não apenas dos processos verbais, mas principalmente dos sociais, históricos, políticos e ideológicos que os discursos estão fundamentados ou trazem em seu bojo.

Como toda história em quadrinhos tem um herói que combate o mal com o bem, que estabelece a ordem e a justiça na sociedade: Mafalda cumpre o seu papel de heroína, mas sem a personificação da glória. Ela combate o mal da sociedade, não um mal exterior ou fronteiriço, mas, um mal interior e conflitante e lança um olhar reflexivo sobre a humanidade, a justiça e a ética.

As histórias em quadrinhos analisadas neste trabalho apresentam uma personagem revolucionária que estabelece uma posição dramática e existencial do indivíduo com o meio social. No discorrer dos desfechos em quadrinhos, são inseridos elementos e valores representativos da vida humana oferecendo-se assim, uma visão dimensional e humanista sobre a atuação do homem na sociedade. Um aspecto cultural contemplado nas histórias em quadrinhos é a perspectiva interpretativa que envolve temas comuns do cotidiano, a difusão de idéias e o combate à alienação.

A função dos personagens “Mafalda” é representar a realidade social e refletir sobre a atuação dos variados grupos sociais frente às questões humanas. Cada personagem tem uma distinta visão de mundo e uma função dialética com a sociedade, dramatizando nos enredos constantes choques de idéias. Nos desdobramentos dos quadrinhos, tem-se um discurso existencialista que foge da visão unilateral, invocando um olhar realista sobre o encaminhamento da sociedade.

Assim como toda literatura tem um fim, Mafalda em quadrinhos traz um diálogo existencial nas suas histórias. Observa-se que a personagem levanta questionamentos imbuídos de uma angústia reflexiva sobre a atuação política do homem e os mistérios da vida e da existência. Essa posição da personagem Mafalda consiste em responsabilizar o homem por seus atos e declara-o autor de seu destino.

Como vimos anteriormente, o pensamento existencialista delega responsabilidade ao sujeito e o aponta como construtor dos seus próprios caminhos, enquanto que, a ideologia generaliza responsabilidades e, como conseqüência exume o sujeito de sua autonomia histórico-social.

Curtindoo